terça-feira, 24 de setembro de 2019

A primeira vez, ninguém esquece.


A PRIMEIRA ADMINISTRAÇÃO, NINGUÉM ESQUECE

Antes de vir para o Distrito Federal, vivi muitos anos no estado do Amazonas, onde tive algumas experiências tanto Missionárias – anunciar e ensinar, quanto no ‘pastorado’ e nesta condição, forçadamente: líder e administrador (embora não o entendesse ainda da forma aqui exposta). 
Certa vez, como co-pastor na então pequena cidade de Maués, recebemos uns obreiros que foram auxiliar o trabalho na cidade. O pastor então, me designou para assumir um trabalho em uma Comunidade Isolada, chamada Paricá, em um afluente do rio Urupadi. Esta decisão foi repentina e a viagem de transferência foi imediata. Para chegar até o local, a viagem dura cerca de 12 horas. A comunidade mais próxima como vizinha, era a aldeia de uma tribo Sateré Mawé. Havia, na comunidade do Paricá, um trabalho já estabelecido e um dirigente local (nativo) era o responsável espiritual por aquelas pessoas simples e que moravam ‘espalhadas’ na região. Tinha membros, que gastava UM DIA inteiro remando, para participar de um culto no domingo. Para visitar o vizinho mais próximo, da ‘casa pastoral’, era também horas remando, ora pelo leito do rio, ora pelo Igapó (floresta alagada).
No primeiro domingo que eu estava como ‘O pastor’, no final da tarde, início da noite (nos guiávamos pelo tempo solar, sem relógios), a maioria dos irmãos reunidos em um ‘Tapiri’ (casa de taipa ou madeira, coberta com palha) típico da Amazônia, o dirigente de então, respeitosamente me apresenta (ainda que todos já soubessem) e respeitosamente me ‘entrega’ a direção da reunião e da Igreja. Após uma brevíssima ‘saudação’ minha, sob os olhares curiosos dos ‘curumins e cunhatãs’ (meninos e meninas), devolvi ao irmão a direção da reunião. A surpresa instalou-se no momento, e todos, principalmente o ‘irmão dirigente’, chocados, não entenderam minha postura. Mas além da surpresa, a alegria do irmão e da igreja foi extraordinária.
Era de se esperar que ‘O pastor’ vindo da cidade, ensinasse aos ‘caboclos ribeirinhos’, semiaculturados e inexperientes, como se pastoreia, administra e se faz o culto!
O fato, é que, apesar da pouca idade e nenhuma experiência em “voo solo”, entendi que a melhor forma para eu ‘administrar’ aquela igreja e pastorear o seu povo, seria primeiro conhecendo a cultura, o comportamento e as peculiaridades. Quase uma transculturação.
Eu precisava de um Planejamento Estratégico, pois como disse, a designação da minha ida foi de certa forma abrupta, imediata e sem planejamento. Sob as ordens do pastor, apenas colocamos umas roupas (poucas que tinha) e minha rede no pequeno barco e rumamos para lá.
 Nos domingos seguintes, passei a usar o período da Escola Dominical, fazendo ‘Classe Única’ com todos quase vinte membros (entre adultos e jovens), para sociabilizar com eles, pois a natureza e cultura desses ‘nativos’, embora dóceis e receptivos, são de certa forma ‘resistentes’ e arredios na maioria das vezes, a intromissão externa. Assim, minha política administrativa era: ministrar na Escola Bíblica e uma vez nas reuniões noturnas dos domingos, nas demais reuniões, eu ‘dividia’ a direção com o irmão, sem ‘destituí-lo’ da função e privilegiando os irmãos com a pregação oficial por um bom tempo, até que percebi o momento de ser aceito pela comunidade, e isso foi paulatinamente. Desta forma, acabei por ganha-los como aliados e amigos, tanto que isso extrapolou do círculo dos fiéis e estendeu-se pela região. Até os ‘inimigos declarados’ da comunidade, que viviam no outro lado do rio, passaram a ter simpatia pelo trabalho e enviavam mantimentos; caças, peixes para esse pastor. Através dessa confiança estabelecida, sem nenhum esforço, consegui que se juntassem a mim em um ‘ajuri’ (mutirão) para abrirmos uma ‘estrada’ pelo meio da selva, afim de atendermos uma outra comunidade que situava a quase um dia de viagem de barco, e por esta ‘estrada’, romperíamos a distância em cerca de 5 (cinco) horas, além do ganho no tempo, também havia a economia no ‘combustól’ (combustível) para a embarcação que se dispusesse à prestar esse serviço, normalmente, algum ‘Regatão’ (comerciante que pratica escambo), ou algum de outras comunidades ‘próximas’ que raramente estaria de passagem, porque na comunidade do Paricá, não havia. Combinamos o ‘ajuri’, e munidos de ‘terçados’ (facões) e machados, partimos floresta adentro. Assim foi feito o caminho (estrada) e abrimos um trabalho nesta localidade. O que fiz, ainda que empiricamente, estava pautado nos moldes da Administração.
Quando cursei Arquitetura, aprendi que os megaprojetos arquitetônicos, de grandes mansões em terrenos enormes, são muito fáceis de fazer! Parece estranho, mas é a pura verdade. Em contrapartida, projetar bem, com escassez de espaço físico e recursos, é extremamente difícil até para o mais capacitado urbanista. De forma análoga, administrar grandes ORGANIZAÇÕES com fartos recursos, eu digo que é fácil. Mas, ser um bom gestor, administrando bem, ‘pequenas’ ORGANIZAÇÕES com escassez de recursos, só é exitoso para quem o faz dentro dos moldes da Administração Científica, implementando suas diretrizes, que na verdade são muito simples e tudo deriva dos quatro pilares sequenciais: PROJETAR, ORGANIZAR, COMANDAR E CONTROLAR.
No caso específico da Administração de ORGANIZAÇÕES Eclesiásticas, saber discernir e diferenciar do ORGANISMO.

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