A PRIMEIRA ADMINISTRAÇÃO, NINGUÉM ESQUECE
Antes de vir para o Distrito
Federal, vivi muitos anos no estado do Amazonas, onde tive algumas experiências
tanto Missionárias – anunciar e ensinar,
quanto no ‘pastorado’ e nesta condição, forçadamente: líder e administrador
(embora não o entendesse ainda da forma aqui exposta).
Certa vez, como co-pastor na então
pequena cidade de Maués, recebemos uns obreiros que foram auxiliar o trabalho
na cidade. O pastor então, me designou para assumir um trabalho em uma
Comunidade Isolada, chamada Paricá, em um afluente do rio Urupadi. Esta decisão
foi repentina e a viagem de transferência foi imediata. Para chegar até o
local, a viagem dura cerca de 12 horas. A comunidade mais próxima como vizinha,
era a aldeia de uma tribo Sateré Mawé. Havia, na comunidade do Paricá, um
trabalho já estabelecido e um dirigente local (nativo) era o responsável
espiritual por aquelas pessoas simples e que moravam ‘espalhadas’ na região.
Tinha membros, que gastava UM DIA inteiro remando, para participar de um culto
no domingo. Para visitar o vizinho mais próximo, da ‘casa pastoral’, era também
horas remando, ora pelo leito do rio, ora pelo Igapó (floresta alagada).
No primeiro domingo que eu estava como
‘O pastor’, no final da tarde, início da noite (nos guiávamos pelo tempo solar,
sem relógios), a maioria dos irmãos reunidos em um ‘Tapiri’ (casa de taipa ou
madeira, coberta com palha) típico da Amazônia, o dirigente de então,
respeitosamente me apresenta (ainda que todos já soubessem) e respeitosamente
me ‘entrega’ a direção da reunião e da Igreja. Após uma brevíssima ‘saudação’
minha, sob os olhares curiosos dos ‘curumins e cunhatãs’ (meninos e meninas),
devolvi ao irmão a direção da reunião. A surpresa instalou-se no momento, e
todos, principalmente o ‘irmão dirigente’, chocados, não entenderam minha
postura. Mas além da surpresa, a alegria do irmão e da igreja foi
extraordinária.
Era de se esperar que ‘O pastor’ vindo
da cidade, ensinasse aos ‘caboclos ribeirinhos’, semiaculturados e inexperientes,
como se pastoreia, administra e se faz o culto!
O fato, é que, apesar da pouca idade e
nenhuma experiência em “voo solo”, entendi que a melhor forma para eu
‘administrar’ aquela igreja e pastorear o seu povo, seria primeiro conhecendo a
cultura, o comportamento e as peculiaridades. Quase uma transculturação.
Eu precisava de um Planejamento Estratégico,
pois como disse, a designação da minha ida foi de certa forma abrupta, imediata
e sem planejamento. Sob as ordens do pastor, apenas colocamos umas roupas
(poucas que tinha) e minha rede no pequeno barco e rumamos para lá.
Nos domingos seguintes, passei a usar o
período da Escola Dominical, fazendo ‘Classe Única’ com todos quase vinte
membros (entre adultos e jovens), para sociabilizar com eles, pois a natureza e
cultura desses ‘nativos’, embora dóceis e receptivos, são de certa forma
‘resistentes’ e arredios na maioria das vezes, a intromissão externa. Assim,
minha política administrativa era: ministrar na Escola Bíblica e uma vez nas
reuniões noturnas dos domingos, nas demais reuniões, eu ‘dividia’ a direção com
o irmão, sem ‘destituí-lo’ da função e privilegiando os irmãos com a pregação
oficial por um bom tempo, até que percebi o momento de ser aceito pela
comunidade, e isso foi paulatinamente. Desta forma, acabei por ganha-los como
aliados e amigos, tanto que isso extrapolou do círculo dos fiéis e estendeu-se
pela região. Até os ‘inimigos declarados’ da comunidade, que viviam no outro
lado do rio, passaram a ter simpatia pelo trabalho e enviavam mantimentos;
caças, peixes para esse pastor. Através dessa confiança estabelecida, sem
nenhum esforço, consegui que se juntassem a mim em um ‘ajuri’ (mutirão) para
abrirmos uma ‘estrada’ pelo meio da selva, afim de atendermos uma outra
comunidade que situava a quase um dia de viagem de barco, e por esta ‘estrada’,
romperíamos a distância em cerca de 5 (cinco) horas, além do ganho no tempo,
também havia a economia no ‘combustól’
(combustível) para a embarcação que se dispusesse à prestar esse serviço,
normalmente, algum ‘Regatão’ (comerciante que pratica escambo), ou algum de
outras comunidades ‘próximas’ que raramente estaria de passagem, porque na
comunidade do Paricá, não havia. Combinamos o ‘ajuri’, e munidos de ‘terçados’
(facões) e machados, partimos floresta adentro. Assim foi feito o caminho
(estrada) e abrimos um trabalho nesta localidade. O que fiz, ainda que
empiricamente, estava pautado nos moldes da Administração.
Quando cursei Arquitetura, aprendi
que os megaprojetos arquitetônicos, de grandes mansões em terrenos enormes, são
muito fáceis de fazer! Parece estranho, mas é a pura verdade. Em contrapartida,
projetar bem, com escassez de espaço físico e recursos, é extremamente difícil
até para o mais capacitado urbanista. De forma análoga, administrar grandes
ORGANIZAÇÕES com fartos recursos, eu digo que é fácil. Mas, ser um bom gestor,
administrando bem, ‘pequenas’ ORGANIZAÇÕES com escassez de recursos, só é
exitoso para quem o faz dentro dos moldes da Administração Científica,
implementando suas diretrizes, que na verdade são muito simples e tudo deriva
dos quatro pilares sequenciais: PROJETAR, ORGANIZAR, COMANDAR E CONTROLAR.
No caso específico da Administração de ORGANIZAÇÕES Eclesiásticas,
saber discernir e diferenciar do ORGANISMO.
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